quinta-feira, 25 de junho de 2015
EXPLORANDO O PRINCÍPIO TERNÁRIO
“Tudo está contido e se conserve no Um, tudo se modifica e se transforma por três: a Mônada criou a Díade, a Díade produziu a Tríade, e a Tríade brilha no Universo inteiro.”
O estudo das ciências ocultas, em muitas escolas esotéricas e filosóficas, tem sua estruturação, em grande parte no conhecimento do ternário. Assim, o conhecimento e entendimento do princípio ternário representa um arcano extremamente importante no percurso da vida iniciática, uma vez que protege um profundo e infinito segredo, onde estão guardadas as respostas para o mistério de todo o universo: a origem de todas as coisas e de todos os seres.
No entanto, de início, cabe-nos destacar que este pequeno texto não tem a pretensão de esgotar ou até mesmo sintetizar todo o significado do princípio ternário e os arcanos por detrás do número três, porém tenta-se discorrer um pouco sobre o seu simbolismo e nos chama a atenção para o valor oculto das coisas que não podem ser esquecidas pelo iniciado.
Na maçonaria, depreende-se que a origem do ternário tem seu início a partir do binário. Este, por sua vez, constitui uma manifestação do princípio da Unidade, do todo, segundo os antigos "En to Pan"- "Uno o Todo". O todo é Uno em sua realidade, em sua essência e substância, tudo vem da Unidade, que está contido e é sustentado por si mesmo. Sua representação é o ponto, origem da linha reta, do círculo.
Partindo do pressuposto, de que a "Umbanda de todos nós", frase eternizada no título do livro de mestre Yapacani, inevitavelmente compreenderemos que a Umbanda se constitui num movimento de convergência. Assim, concluímos que a Umbanda traz em seu bojo os mais antigos e importantes fundamentos Filosóficos, Científicos, Religiosos e Artísticos da Humanidade, constituindo-se na religião original ou "primeva" como muitos a definem.
Podemos dizer que a Umbanda é fundamentada em um tripé essencial, que são as formas de apresentação (essenciais), sem as quais não se pode falar em Umbanda, e isso é unânime. Pretos-Velhos, Caboclos e Crianças formam o essencial da Umbanda. Significando o desenvolvimento da vida, ou seja, o início da vida, a pureza e a simplicidade, a descoberta (infância = crianças), o amadurecimento a virilidade o destemor, a vontade e o arrojo, a força (adulto = caboclo) e o amadurecimento, a sabedoria da vivência, a humildade de quem já viveu muito, a experiência e o conhecer das outras fases (velhice = pretos-velhos). As formas de apresentação significam a nossa vida, e dão conta de todos os problemas de nossas existências.
Assim, percebemos, nessa simbologia, que as 3 etapas da vida estão representadas, e etapas essas que são imutáveis e inatas a condição humana. A tríplice manifestação na Umbanda está de alguma forma também ligada à cosmogênese e a doutrina do tríplice caminho ( luz, som e movimento).
Diante do exposto, questionamo-nos: por que 3 formas de representação? Por que três forças fundamentais? Por que triplíce caminho? Por que o número 3? Sem menção ou considerações intrínsecas ao tempo/espaço e/ou religiões e seus conceitos. O ser humano sempre criou e buscou símbolos e códigos para decifrar a si mesmo, e nesse contexto, a simbologia e a simbiose dos números é um deles. As tradições relatam que os povos primitivos utilizavam os dedos e pedras para fazer seus primeiros numerais. Os egípcios aprenderam a Matemática com os hebreus cativos, há mais de 300 anos antes de construir as pirâmides. A Matemática explica que os primeiros números surgiram quando os pastores começaram a contar seus rebanhos no final do dia, comparando a quantidade de ovelhas à determinada quantidade de pedras. Uma das ciências mais antigas da História, a Numerologia, foi utilizada pelos povos fenícios, babilônicos, egípcios, gregos, romanos, chineses e árabes. Ao longo do desenvolvimento desta ciência, cada número passou e ter um significado. E o simbolismo do número três é um dos mais curiosos e complexos nas mais diversas culturas e seus simbolismos. O três significa “A Criação”, a natureza tríplice de Deus (criação – conservação – destruição). Pode significar também o desenvolvimento ordenado do Universo em sua total harmonia e os três principais ciclos da vida: nascimento, apogeu e morte.
Helena Blavatsky, em seu livro intitulado “ Doutrina Secreta; A síntese da Ciência, Religião e Filosofia”, coloca que a tríade metafísica como a Raiz da qual procede toda manifestação, a grande Respiração assume o caráter da Ideação pré-cósmica. Ela é a fons et origo da energia e de toda consciência individual, e dá a inteligência orientadora no vasto esquema da Evolução cósmica.
Dentro da história religiosa, vamos nos deparar com acontecimentos em que o número três misteriosamente ou misticamente tem sua presença marcante, direta ou indiretamente. Em seu percurso histórico, observaremos que o número três esteve presente em muitos momento na vida de Jesus. Vejamos:
* TRÊS foram os Reis Magos que levaram presentes quando Jesus era um recém-nascido.
* Jesus tinha 12 anos (1+2=TRÊS) quando debateu com os mestres do Templo,
* Foi batizado e começou a pregar com 30 anos
* Teve 12 discípulos (1+2= TRÊS)
* Revelou que Pedro o negaria TRÊS vezes.
* Morreu com 33 anos (TRÊS , TRÊS ).
* Ressuscitou no terceiro dia
Eliphas Levi, em seu livro “ A Chave dos grandes mistérios”, afirma que a chave dos números é a dos símbolos, visto que os sintomas são as figuras analógicas da harmonia que nasce dos números. Nesse sentido, discorre que a unidade é o princípio, e a síntese dos números é a idéia de Deus e do Homem, e a aliança da razão e da fé. Em seguida, coloca que o binário é mais particularmente o número da mulher e o ternário é o número da criação. Em outro livro, o autor coloca que o verbo perfeito é ternário, porque supõe um princípio inteligente, um princípio que fala e um princípio falado. (...) O ternário está traçado no espaço pela ponta culminante do céu, o infinito em altura, que se une por outras linhas retas ao oriente e ao ocidente.
Aproveitando o entrecho, trazido pelas palavras de Eliphas Levi, adentramos a geometria sagrada, onde, de forma breve e resumida, inferimos que o 1 é o ponto, o 2 é a linha e o 3 é o triângulo. O 3 é o primeiro número harmônico tendo um âmbito estável, alcunhado Portão da Forma por tornar-se dimensional. Ele é um patamar que se atinge para se poder planejar, possibilitando definições. O 3 é síntese do crescimento e desenvolvimento. É expansão, definição e desdobramento. São 3 os momentos dialéticos da Tese / Antítese / Síntese que se expressam criativamente. O 3 é expressão de criação. São os três tempos do verbo: passado, presente, futuro. Na linguagem é o sujeito, o verbo e o predicado. Presente ainda no triângulo edípico familiar , do filho(a), do pai e da mãe. No aparelho psíquico da primeira tópica freudiana do inconsciente, o pré-consciente e o inconsciente, ou ainda da segunda Tópica Id, o Ego, e o Super-ego e na composição da Tópica Lacaniana do Imaginário , o Simbólico e o Real. O 3 está presente em várias culturas , mitos e religiões, retratando que 3 linhas , 3 facetas
compõem 1 triângulo, que tendo uma base triângular forma um triedro, revelando uma equivalência do 3 com o 1. Assim, temos : O Taoismo, com o Tao da unidade triádica caminho-caminhante-caminhada. O Hinduísmo com Brahma ( criador), Vishnu (conservador) e Shiva ( tranformadora). As 3 parcas romanas ou as 3 moiras gregas que fiam, tecem e cortam o destino. No antigo Egito eram Horus, lsis e Osiris. No cristianismo da Santíssima trindade unitária do Pai, Filho e Espírito Santo.
A utilização do triângulo como símbolo de realidades espirituais é muito antiga e pode ser recenseada em todas as tradições religiosas da antiguidade. Na religião dos povos da Mesopotâmea, por exemplo, o universo era dividido em três regiões, cada qual sob o domínio de um deus. O céu cabia ao Deus Anu, a terra era governada por Enlil e as águas estavam sob o domínio da deusa Ea. Eles formavam a tríade das deidades construtoras e governantes do mundo.
Também no Hinduísmo, a idéia de uma trindade de deuses a construir e governar o universo é bastante antiga. Essa idéia sustenta que o mundo é construído e sustentado por uma trindade de deuses chamados de Brhama, Vixenu e Shiva. Brhama é o deus da criação, Shiva é o deus da destruição e Vixenu da preservação. Na religião solar dos egípcios, essa trindade era composta por Osíris, Ísis e Hórus, sendo Osíris o Sol, Ísis a Lua e Hórus, o filho que deles nasce, ou seja o universo com todas as suas manifestações.
Mas é na tradição gnóstica dos neoplatônicos que a idéia da trindade iria ser trabalhada na sua forma espiritual mais elaborada.
Segundo Michel Miller, frater rosacruz, em seu artigo intitulado “Quando três constituem apenas um”, discorre sobre o simbolismo do número três e o arcano da trindade. Dentre outras idéias desenvolvidas, o autor infere que o número três, dentro de uma linguagem simbólica, manifesta a ligação que une o espírito a alma e o corpo, de tal modo que os três constituem apenas UM, e assim conseguimos distinguir, com toda lógica, as três funções marcantes que animam o ser humano durante o período de sua encarnação.
Mais adiante em seu artigo, Miller, parafraseando Georges Dumézil- famoso filólogo francês- propõe uma análise bastante interessante: “(...)propondo-nos o seguinte:
“(...)Assim também a Índia, com a instabilidade de representação e de formulação que lhe é característica, compõe a Alma – ou, pelo menos, o envoltório da Alma – dos três mesmos Guna que compõem a sociedade e o Universo: essas ‘qualidades’ que foram primeiramente luz, crepúsculo e trevas – Sattva, Rajas e Tamas – seja por suas presenças isoladas, seja por suas combinações, constituem não só os indivíduos, mas também os Estados: algumas vezes os sentidos da lei moral, da paixão, do interesse – Dharma, Kâma, Artha – se unem numa tríade equivalente à das Guna, e seus equilíbrios, louváveis ou censuráveis, definem os tipos de homens; outras vezes, seguindo um esquema bem indiano, é o conhecimento sossegado, a atividade inquieta e a ignorância fonte dos erros que disputam entre si nosso templo efêmero”. Isso se encontra ilustrado de forma apropriada no Ayurveda, que percebe o Ser humano na forma de três envoltórios: o do sustento/alimento (corpo de carne), correspondente ao ventre e ao baixo-ventre; o da respiração, centrado no coração, responsável pelo metabolismo da água (plasma, sangue), correspondendo ao peito, ao coração e aos pulmões; e o do envoltório mental (pensamentos, emoções, cinco sentidos), correspondendo à cabeça. (...)”
A longa citação de Georges Dumèzil, que dedicou grande parte de sua vida ao estudo e comprovação das raízes indo-européias de nossas culturas ocidentais, nos mostra a que ponto a tripartição do funcionamento, não só do ser humano, mas também da sociedade e até do “Cosmos”, vem de um esquema universalmente reconhecido e aceito como o fundamento do próprio surgimento e da evolução da vida no universo.
Dentro da Cabala, as palavras que nos ligam as 72 nomes sagrados de Deus são compostas por três letras. Nesse aspecto, novamente, vemos o potencial criador do três. Numa reflexão, dentro da cabala, perceberemos que o tal número significa o potencial de transformação e unificação das 2 polaridades onde o espiritual governa o físico e a mente governa a matéria.
Portanto, o número 3, em suma, associa-se com a criação, que traz, de uma forma ou outra, na sua manifestação atributos como expansão e comunicação, demonstrando o relacionamento do sagrado e profano, do mundo interior com o exterior. Logo, ele é a frutificação, a trindade e a multiplicidade.
Assinar:
Postagens (Atom)